6. Fatores Psicossociais de Risco: O Caminho a Seguir Depende do Local para onde Queremos Ir…
A partir dos resultados dos cinco inquéritos europeus sobre condições de trabalho (Eurofound, 1992; 1997; 2001; 2007; 2012), constatámos, no último texto, que em Portugal, o tempo de trabalho é, desde 1991, superior ao da média europeia; o ritmo de trabalho é menos intenso e os portugueses trabalham menos com prazos apertados e horários atípicos. A possibilidade de compatibilizar o trabalho com a vida social e familiar é alta e maior do que para os europeus. Os portugueses têm menor necessidade de novas aprendizagens para fazer o seu trabalho e fazem menos formação. Também necessitam menos de esconder os seus sentimentos para realizarem corretamente o seu trabalho, e têm menos contacto com o público e menos clientes irritados.
A autonomia no trabalho é alta, mas os trabalhadores portugueses têm menor controlo sobre o seu trabalho e menos tarefas complexas. Por outro lado têm mais possibilidade de fazer uma pausa quando querem, mais tempo para realizarem o seu trabalho e maior possibilidade de participar em decisões importantes em relação ao mesmo.
Ao longo das últimas duas décadas, os trabalhadores portugueses têm tido apoio por parte de colegas e chefias, embora em níveis menores que os seus congéneres europeus. Este apoio é, ainda, maior em 2010, tornando-se superior ao existente na europa. Os comportamentos hostis são, ao longo dos anos, menos relatados pelos trabalhadores portugueses que pelo todo europeu. Embora sendo vítimas de violência, assédio, intimidação e discriminação, os portugueses têm, nestes aspetos menores razões de queixa. A violência física é o comportamento que mais se assemelha aos valores europeus, e somente em 2010. A violência verbal é o comportamento hostil mais referido e no que diz respeito à discriminação a que os trabalhadores mais sentem é a discriminação por idade.
Em 2010, os conflitos de valores estavam pouco presentes no quotidiano dos trabalhadores portugueses. Estes executavam um trabalho que não conflituava com os seus valores pessoais e que consideravam bem feito e útil (mais do que os europeus). A segurança no trabalho preocupava-os, pois apesar de considerarem que o seu emprego estava seguro nos tempos mais próximos, também mostravam, mais que os europeus, que não seria fácil encontrar um semelhante se tal não viesse a acontecer.
Terminámos questionando o significado desses resultados; se poderiam constituir um “retrato” fiel das condições de trabalho e se três anos depois do último inquérito, se manteriam as mesmas perceções.
De pergunta em pergunta…
O estudo dos riscos psicossociais insere-se num objetivo mais vasto que é o da preocupação com a saúde e segurança dos trabalhadores. Assim, olhar para qualquer tipo de dados implica interpretá-los à luz das suas repercussões nesse âmbito. Deste ponto de vista, e por comparação, poderíamos dizer que a perceção relativa aos riscos psicossociais por parte dos trabalhadores portugueses é menos negativa que a dos europeus. Tendo em consideração todas as limitações que estes resultados comportam, não deixa de ser uma conclusão que, se por um lado é animadora, por outro continua a colocar-nos dúvidas sobre a sua justificação. Ou seja, a perceção demonstrada corresponde de facto a uma situação em que as condições de trabalho, as questões organizacionais e relacionais, em Portugal, são melhores que nos outros países? Ou o que se nos apresenta é uma menor valorização de um conjunto de fatores por parte dos trabalhadores portugueses?
“(…) A violência física é o comportamento que mais se assemelha aos valores europeus, e somente em 2010. A violência verbal é o comportamento hostil mais referido e no que diz respeito à discriminação a que os trabalhadores mais sentem é a discriminação por idade.”
A resposta não é fácil de aduzir. E a incerteza das justificações, ou até em alguns aspetos a ausência dela, é tão mais preocupante quanto o ser de uma forma ou outra, traduz realidades completamente diferentes, nomeadamente em termos do que é percecionado como sendo, ou não, importante do ponto de vista da saúde destes trabalhadores. No caso, percecionado pelos próprios. Mas, também, importante do ponto de vista de quem estuda, trabalha ou decide acerca das questões laborais, nomeadamente das relacionadas com a saúde e segurança.
Estudos mais recentes trazem mais alguns dados sobre estes aspetos que iremos analisar.
A Sondagem de opinião pan-europeia sobre segurança e saúde no trabalho de 2012…
Entre outubro de 2011 e janeiro de 2012 a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA, 2012) questionou, em 36 países europeus, a população em geral, acerca da saúde e segurança ocupacionais. Foram questionados em cada país, por amostragem, adultos com mais de 18 anos. Em Portugal foram entrevistados 1003 pessoas.
Foi solicitado às pessoas que expressassem a sua opinião acerca do aumento, diminuição ou manutenção, nos próximos 5 anos, do número de pessoas que sofre de stresse relacionado com o trabalho; sobre a sua informação relativa aos riscos de segurança e saúde no local de trabalho e acerca da sua confiança na resolução de um problema de saúde e segurança no local de trabalho, quando relatado às chefias. Foram, também, questionadas relativamente à circunstância de muitos governos europeus estarem a considerar, ou terem decidido, aumentar a idade de reforma porque as pessoas vivem mais tempo. Neste caso era solicitado que os inquiridos referissem em que medida consideravam importantes as boas práticas de segurança e saúde, para ajudar as pessoas a trabalhar mais tempo, antes de se reformarem. Por último, pedia-se o grau de concordância com a afirmação: para que o país seja economicamente competitivo, os locais de trabalho precisam de seguir as boas práticas de segurança e saúde.
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