Resumo
O presente artigo teve como base uma aula de 4 horas de mestrado em Gestão da Prevenção de Riscos Laborais, em laboratório de estatística, para posterior conceção de um artigo científico, em grupo. A articulação das tarefas distribuídas pelos 9 coautores permitiu concluir o artigo em 36 horas.homem trabalhadas. Teve como objeto de estudo a variação dos acidentes de trabalho com o efetivo laboral, com as horas trabalhadas, e com a duração média da jornada de trabalho. O objetivo científico foi pesquisar correlações entre variáveis. O objetivo didático foi demonstrar os passos do método científico e o objetivo pedagógico foi quebrar preconceitos sobre a dificuldade de produzir trabalho científico. Partindo de uma sumária revisão da literatura, colocaram-se hipóteses de investigação e prosseguiu-se para tratamento estatístico inferencial sobre os dados dos acidentes de trabalho com baixa médica, do efetivo médio laboral, das horas trabalhadas e da duração da jornada média de trabalho, de uma grande empresa, durante 20 anos consecutivos. Os resultados revelaram uma associação direta, estatisticamente significativa e forte, dos acidentes de trabalho às horas trabalhadas e ao efetivo. No caso da associação dos acidentes à duração média da jornada de trabalho, a associação é estatisticamente significativa, mas de intensidade moderada. Este ensaio permitiu também interpolar e extrapolar, com reservas, os acidentes esperados em função de uma dada carga de trabalho. As competências desenvolvidas neste trabalho revelaram-se úteis para a produção de conhecimento científico, em geral, e para gestão da prevenção dos riscos laborais, em particular.
Palavras-chave
Acidentes de Trabalho; Índices de Sinistralidade; Horas Trabalhadas; Segurança no Trabalho; Efetivo Laboral.
1. Introdução
Neste estudo é considerado acidente de trabalho com baixa médica, aquele de que resulte incapacidade para o trabalho que se prolongue por um período superior a 3 dias consecutivos. Destes acidentes podem resultar a morte ou lesões corporais, por vezes permanentemente incapacitantes, não só para o trabalho, mas também para uma boa qualidade de vida.
As estatísticas da União Europeia põem em evidência o custo humano e social das consequências de acidentes laborais. As informações sobre acidentes de trabalho são de grande relevância para que os países e as organizações possam compreender melhor a importância da saúde ocupacional e segurança. Assim, os dados estatísticos são essenciais para a prevenção de acidentes e um ponto de partida para o trabalho em segurança (Hämäläinen, Saarela & Takala, 2009). Segundo o Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP, 2008), a informação estatística dos acidentes de trabalho visa uma análise mais aprofundada e rigorosa dos acidentes e deverá conduzir ao estabelecimento de ações de prevenção mais eficazes. «A Estatística constitui o método mais frequente de análises de riscos, permitindo ao especialista de Segurança um conhecimento efetivo da sinistralidade laboral e a consequente definição de prioridades no controlo dos diferentes riscos» (Miguel, 2000). Assim, a literatura assume que o tratamento estatístico da sinistralidade laboral e a sua divulgação podem contribuir para a sua redução.
“(…) acidente de trabalho com baixa médica, aquele de que resulte incapacidade para o trabalho que se prolongue por um período superior a 3 dias consecutivos. Destes acidentes podem resultar a morte ou lesões corporais, por vezes permanentemente incapacitantes, não só para o trabalho, mas também para uma boa qualidade de vida.”
A gestão da prevenção de riscos laborais – como a própria designação sugere – implica competências técnicas nos âmbitos da avaliação e controlo dos riscos, mas implica também competências de gestão, tais como o tratamento estatístico do fenómeno da sinistralidade.
Tratamentos estatísticos da sinistralidade de qualidade diferente permitem um potencial de aprendizagem também diferente, como se exemplifica com quatro estudos deste século, adiante resumidos.
Numa investigação de mestrado (Panzer, 2004) realizada numa empresa metalúrgica na cidade brasileira de Porto Alegre, em 2002, com recurso exclusivamente a estatística descritiva, registaram-se as horas de trabalho e os acidentes ocorridos ao longo de dois anos. Verificaram-se flutuações mensais nos acidentes e nas horas de trabalho (com maior ou menor prolongamento do horário de trabalho normal), sendo essas flutuações desfasadas entre si. O investigador interpretou que os acidentes de trabalho não estavam relacionados com a realização de horas extras, porque a subida e descida de ambos não ocorriam no mesmo mês. No entanto, quem observar os dados do estudo pode verificar que, em vários casos, a um mês com subida das horas de trabalho extraordinário, se seguiu um crescimento dos acidentes de trabalho no mês seguinte. Por si só, esta observação suscita-nos a ressalva de que, se esta investigação tivesse testado a associação entre as variáveis citadas, tratando os dados com estatística inferencial, podia não ter chegado à mesma conclusão.