O nosso tradicional eurocentrismo, aliado a uma mal disfarçada nostalgia por muitos sentida faz com que, regra geral, olhemos para a Europa ou, na melhor das hipóteses, para o chamado “mundo ocidental e desenvolvido”, como o farol, o exemplo a seguir em quase todas as áreas, nomeadamente a da prevenção de riscos profissionais.
Em consequência disso olhamos com um olhar “paternalista”, quando não com afectada sobranceria, para a situação que se vive nessa área nos países que nos habituámos (ou que nos habituaram) a considerar como “menos desenvolvidos”.
Esquecemo-nos que muitas das principais infraestruturas que mantém em funcionamento as economias e que asseguram o bem-estar dos países ditos mais desenvolvidos estão localizadas exactamente nos países e regiões que designamos como menos desenvolvidos.
É o que acontece com muitas das maiores explorações mineiras, com as explorações petrolíferas e refinarias, ou com as centrais hidroelétricas, para apenas citar alguns dos exemplos mais óbvios.
Mas, será que essas infraestruturas não operam debaixo dos mais estritos e severos padrões de segurança, mesmo que estejam localizadas no meio do mais árido dos desertos, no coração da mais cerrada selva ou na mais inóspita tundra? Claro que sim. A natureza crítica da operação e o seu valor de negócio a tal obrigam.
Vem esta reflexão a propósito de uma experiência vivida muito recentemente.
Encontrando-me noutro continente tive ocasião de visitar uma grande infraestrutura, crucial não apenas para o país onde estava instalada mas para toda uma região.
Apesar de se tratar de um país cuja legislação nacional sobre Segurança e Saúde no Trabalho é muito vaga e geral, nas instalações dessa infraestrutura vive-se um esforço real de promoção do trabalho em segurança, bem visível não apenas na sinalização, equipamento e “house keeping” dos espaços mas também, e sobretudo, pela utilização dos EPIs e pela adoção de gestos profissionais adequados à segurança da tarefa a desempenhar.
Foi uma agradável surpresa e o reconhecimento do enorme esforço desenvolvido pelos técnicos locais, com os escassos meios de apoio de que dispõem.
E de repente deparei com um grupo de técnicos estrangeiros, a trabalharem sem qualquer EPI e com posturas de trabalho no mínimo negligentes.
O embaraço cresceu quando soube que eram portugueses. Mas o embaraço cedeu lugar à surpresa quando soube para que empresas trabalhavam. Uma grande empresa portuguesa que no nosso país tem um registo de segurança quase “imaculado”!