PAULO MACEDO (Professor – Universidade Lusófona)
1.
A invasão armada da Ucrânia pela Federação Russa é um assunto inultrapassável na actualidade e, dada a profusão de comentadores portugueses que os
media, em particular as cadeias de televisão, conseguiram desencantar ao longo do último ano, não nos atrevemos a fazer qualquer observação directa sobre a matéria. Outro tanto não é verdade sobre a questão lata da defesa europeia.
Desde 1989 que a Europa se percepcionou como um espaço Kantiano de paz perpétua, procurando fazer jus às palavras daquele filósofo que entendia que a razão, porque mais válida do que o poder, poderia conjugar vontades para a materialização de um contrato entre povos que permitisse uma convivência pacifica acabando com as guerras para todo o sempre.
A questão é que nem todos os povos, como as pessoas em geral, pensam da mesma forma ou têm a mesma visão sobre um determinado tema – a Europa é construída em cima de valores partilhados e de uma visão do mundo similar e, nem assim, os conflitos políticos e as diferenças de visão entre os membros da EU são inexistentes, como se pode observar em várias matérias desde o campo político ao campo económico – os objectivos enquanto países são diferentes e os custos de uma guerra podem ser aceitáveis para alguns países em função do objectivo que pretendam atingir como aliás a Federação Russa o está a demonstrar.
A Europa, enquanto actor do sistema internacional, esquecendo-se de que a paz perpétua desde 1756 até aos dias de hoje foi apenas um sonho, preferiu menorizar ou mesmo abandonar (em termos genéricos) a sua capacidade militar acreditando que tal demonstração levaria a que outros seguissem a mesma visão; a guerra na Jugoslávia (1991 – 2001), a guerra na Geórgia (2008), a guerra civil na Líbia, entre outros focos de conflito, em particular no Leste da Europa, não serviram para acordar consciências de que provavelmente a não-capacitação da Europa como (também) uma potência militar não seria a melhor opção.
Para além do eterno argumento da defesa da Europa ser assegurada pelos EUA, também a presidência de Donald Trump não serviu para iluminar uma possível reanálise da segurança europeia.
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