LEONOR CARMO (Coordenadora do Centro Qualifica do Algueirão)
Percebo, agora que sou avó, aquela mania incomodativa que a minha mãe tinha de andar “colada” aos meus filhos, quando cada um deles começou a atrever-se no exercício da marcha titubeante dos bebés. Depois de alguns galos nas testas, arranhões e de tudo o que faz parte deste período de descoberta, quando eu já pensava que era desta que estes três jovens iam deixar de depender da presença amparadora da avó porque já eram crescidinhos, que a morte prematura deste Anjo da Guarda veio provar que afinal o colinho da avó faz muita falta.
Eu já o sabia. Talvez tivesse algum ciúme de ver os meus filhos em amena cavaqueira com a minha mãe, ou a rebolarem na relva como loucos, ou ainda a irem passear até ao jardim onde se deliciavam com um gelado e tempos infinitos nos baloiços que a avó de paciência infinita, empurrava ao som das gargalhadas dos netos e da cadência do pedido: “mais forte avó, mais forte”…
Atualmente os meus filhos são jovens adultos equilibrados, pais generosos… e eu sou a avó que ando “colada” aos meus netos, que rebolo com eles e faço de conta que tomo o chá feito na cozinha do quarto dos brinquedos.
E o tempo de duas gerações passou num clique, num piscar de olhos. Agora sou mãe e agora já sou avó. Basicamente, o upgrade de estatuto, permite-me ter tempo para tentar viver em plenitude e refletir sobre o que quero, como quero e quando quero ser protagonista ou agente passiva de qualquer ação diária.
Mas, e se não tivesse de ser assim? E se eu tivesse tido tempo para antecipar esta fase? Melhor, e se me tivesse sido permitido usufruir de cada momento com os meus filhos e a minha mãe? Se tivesse podido ir brincar com eles para o jardim nos dias da semana e tivesse podido vê-los dar o primeiro passo ou dizer a primeira palavra? Mudaria algo? Seria diferente? Mudaríamos? Seríamos nós diferentes?
Sinceramente no meu caso penso que não. Mas… porque tenho esta mania de querer ser parecida com a minha mãe, e logo após a sua partida, decidi assumir quase de imediato o seu papel. Tive esse poder. Tive essa possibilidade imensa de poder continuar a amparar as quedas e prevenir os galos na testa e os arranhões. A minha profissão permitia-mo e eu suguei todo o tutano da vida, para a viver em plenitude com os meus filhos.
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