Todos os anos temos a mesma lengalenga. O país cobre-se de incêndios de norte a sul passando pelas ilhas.
Às televisões, invadidas pelas labaredas e por uma histeria maior do que a habitual, acorrem especialistas enumerando as causas dos sinistros, propondo as mesmas soluções de sempre, misturados com o natural desespero dos populares que tentam apagar fogos com baldes e mangueiras precárias. Já os jornalistas nunca resistem a falar dos cenários dantescos revelando que nunca leram “A Divina Comédia” de Dante. De resto, os políticos expressam solidariedade com as populações, o que é à borla e fica sempre bem, enquanto o Governo promete mais meios, coisa que diga-se em abono da verdade, têm cumprido ao longo dos anos. Nunca houve tanto bombeiro, tanto carro, avião e helicóptero. E, no entanto, o país continua a arder.
Os simplórios culpam os criminosos. Os políticos culpam os outros. Jaime Marta Soares, eterno presidente da Liga dos Bombeiros, presidente da Câmara durante 40 anos, deputado do PSD em várias legislaturas desde 1979 e até membro da assembleia-geral do Sporting, fala que se farta, sempre exaltado, culpando tudo e todos. Mas não revela o que fez em tanto cargo para resolver o problema. A não ser exigir mais dinheiro para os bombeiros.
O problema dos fogos é também esse. Instalou-se em Portugal um poderoso lóbi, que há quem, menos comedido, chame uma verdadeira máfia, que canaliza todas as verbas disponíveis para o combate ao fogo. A gestão da floresta e a prevenção ficam com as migalhas.
Portugal não precisa de mais bombeiros. Precisa de mais engenheiros florestais.