(continuação do número anterior)
Em síntese, a fonte de variabilidade que se observa entre indivíduos/trabalhadores pode ser descrita (Quadro nº3) na perspetiva das diferenças que podem condicionar o desenvolvimento das lesões músculo-esqueléticas em situações concretas de trabalho, sendo esperável que tal descrição contribua para valorizar os fatores individuais:
4.1 Sexo
O sexo é considerado como uma variável de confundimento ou como um fator modificador na génese e/ou desenvolvimento das LMELT.
De acordo com Hagberg e outros (15) e Kelsh e Sahl (26), a presença de sintomas, nomeadamente dor a nível da região cervical e dos ombros, apresenta valores de prevalência mais elevada no sexo feminino, independentemente desses estudos serem de base ocupacional ou de provirem da população em geral. Nos mesmos estudos a prevalência dos sintomas no género masculino mantém-se ou diminui nos grupos de idade mais avançada, enquanto no sexo feminino se observa um significativo aumento de sintomas, em particular no grupo etário entre os 34 e os 45 anos ou grupos etários mais idosos.
Aqueles autores ao analisarem esses resultados abordam as diferenças biológicas entre os sexos. Em geral a capacidade física de trabalho é inferior no sexo feminino (27) o que implica uma carga de trabalho acrescida para as mulheres quando se encontram em postos de trabalho semelhantes aos dos homens e, consequentemente, um risco acrescido para o desenvolvimento de LMELT.
Pensa-se ainda que possa existir também uma relação com a diminuição da força muscular (força máxima voluntária) (28). Referem-se ainda aspetos relacionados com a atividade de trabalho em que a subsistência de “tarefas para homens” e “para mulheres” continua a existir nos nossos dias. Para a maioria das mulheres essa dicotomia associada ao seu papel ainda predominante na sociedade em outras tarefas extraprofissionais conduz, com frequência, a situações de sobrecarga física e reduz a oportunidade de recuperação após a jornada de trabalho, podendo constituir mais um fator que pode aumentar a suscetibilidade das mulheres a essas patologias (29).
Alguns investigadores, de que se destacam Messing e outros (30), analisaram, nas sociedades atuais e passadas, os “papéis” do homem e da mulher identificando diferenças entre as tarefas que lhes são atribuídas e constataram que a divisão tradicional do trabalho em “ligeiro-fácil” e “pesado-difícil” é com frequência mais aparente do que real. Às mulheres, muitas vezes, são atribuídas tarefas “ligeiras-fáceis” do ponto de vista da necessidade de aplicação de força, todavia exigentes a nível da repetitividade e de motricidade fina. Os homens encarregam-se dos trabalhos “pesados-difíceis”, exigentes em força mas, com frequência, ligeiros em repetitividade e pouco exigentes em coordenação motora fina (30).
Contrariamente, outros autores, de que se destacam Mergler e outros (31), referem que mesmo com uma sintomatologia e doenças ligadas ao trabalho distintas, nestes grupos a aparente dicotomia revela-se frágil quando, por exemplo, os homens são colocados em postos de trabalho habitualmente atribuídos às mulheres, isto é, verifica-se que os homens revelam sintomas e sinais sem diferenças significativas aos referidos pelo grupo feminino.
Assim, apesar de ser atribuído ao sexo feminino um risco presumivelmente acrescido, decorrente da exposição aos fatores de risco de LMELT, alguns estudos de que se destaca, por exemplo, o de Hooftman e outros (32), apresentam resultados contrários em que os homens, na maioria das situações analisadas, têm maiores níveis de risco de sofrer sintomatologia músculo-esquelética.