Resumo
Revisita-se o fenómeno do Burnout com o objetivo de traçar um modelo compreensivo e integrado das intervenções que se exigem para o enfrentar.
Começa-se por desenhar um modelo dos impactos múltiplos do Burnout a vários níveis, que alicerça a conceção da mediação, seja esta minimizadora quando o problema já está presente, seja ela preventiva.
Descreve-se o modelo tridimensional compreensivo e integrado das intervenções com descrição dos atores envolvidos em cada foco e nível de ação. Procede-se à exemplificação de ações concretas que podem ser implementadas.
Qualquer profissional necessita de dispor das condições que viabilizem a boa prática profissional e a boa eficiência, sem que ameacem a sua saúde. Concomitantemente o profissional precisa de desenvolver em si mesmo fatores que lhe permitem o êxito no exercício profissional. Tal inclui competências pessoais, de atitude, regulação emocional e comportamento, usualmente denominadas soft skills, que facilitam a resiliência pessoal e protegem do Burnout.
Palavras-chave:
Burnout; Modelo; Intervenção; Prevenção; Resiliência; Soft Skills
Burnout: Determinantes e Impactos
O fenómeno do Burnout decorre na relação dinâmica entre o trabalho, o trabalhador e os contextos de vida. Logo que tal é compreendido é fácil apreender que as suas determinantes são complexas e os seus impactos múltiplos e em permanente interacção1.
É essencial notar que uma vez entrado em Burnout cai-se num ciclo vicioso de maior stresse e perdas de oportunidades, permanecendo-se bloqueado em situação de Burnout2.
Na Figura 1 sistematiza-se um modelo dessa interação.
Para compreendermos as situações de Burnout há que deixar de parte um paradigma simplista – uma causa, uma situação, um agente, um efeito – que poderia então ser imediatamente tratado ou prevenido se se seccionasse esta cadeia; pelo contrário, há que perceber que diversos desencadeantes, em diferentes contextos, se podem repercutir de modos diferentes, a distintos níveis: individual tanto físico, como psicológico, sócio familiar e de qualidade de vida/pessoal3.
Também se impõe integrar que o próprio individuo é ator, causa e vítima do Burnout. E há que ter em conta as vulnerabilidades pessoais, ou de classe profissional.
Do mesmo modo os contextos, profissionais, económicos, culturais são chamados ativamente a este processo4.
Clarifica-se que neste modelo quando se menciona saúde pessoal, descreve-se algo que vai mais além do que somatório da saúde física, psíquica e social. Aqui entende-se o indivíduo na sua dimensão existencial, como um todo integrado enfatizando-se a capacidade de auto realização, de gerar prazer e fazer «a diferença» positiva na existência.
No seu nível mínimo significa a presença dum interesse real e crescente pelas experiências e atividades que capacitam a pessoa a transcender as preocupações com os problemas, as tarefas e as obrigações do dia-a-dia. Noutros termos, é uma potencialidade para que a pessoa concretize os talentos intelectuais, emocionais, culturais e espirituais que intrinsecamente possui5.
É ainda basilar ter presente que em cada situação particular há sempre fatores favorecedores da saúde e outros que a comprometem (ou seja, se concebermos que o stresse pode determinar o Burnout há que procurar eliminar ou minimizar os fatores psicossociais de risco de stresse e concomitantemente ampliar todos os fatores que protegem a saúde, nomeadamente a resiliência).