Após um Inverno cinzento e chuvoso o Verão está aí e com ele chegam as altas temperaturas, o calor, os dias de sol… e o terreno propício para as lesões da pele provocadas pela exposição descontrolada à radiação ultravioleta, nomeadamente os melanomas.
É uma situação que ultrapassa largamente as fronteiras ocupacionais já que incorpora inclusivamente fatores de pressão social bem presentes por estes tempos, quando toda a comunicação social nos diz que nesta época do ano, em que mais nos despimos de roupas e de pudores, temos de apresentar corpos esbeltos (daí a proliferação de produtos “adelgaçantes” e dietas miraculosas), glabros (pelo que as depiladoras não têm mãos a medir) e bronzeados (o que motiva tanta gente a expor-se ao bronzeador mais barato e acessível, a exposição ao Sol).
E essa exposição começa desde pequeninos quando, para muitos jovens, não mudar de pele pelo menos uma vez durante o Verão é sinónimo de não ter gozado verdadeiramente a praia. Talvez Darwin pudesse usar esta pulsão como uma reminiscência reptiliana que apoiaria a sua teoria da evolução e de o homem ter os répteis como antepassados, mas a triste realidade é que mais do que revelarmos o sangue frio dos répteis, antes demonstramos a cabeça quente de quem consciente ou inconscientemente está a contribuir para a degradação da sua saúde.
Até porque para o melanoma, tal como para outros cancros de pele, tanto concorre a exposição cumulativa ao longo da vida, como a exposição episódica, desde que muito intensa.
A verdade que devia fazer-nos pensar é que o melanoma, que até meados do século passado era uma forma de cancro relativamente rara, tem vindo a aumentar de forma quase exponencial, não apenas por responsabilidade dos comportamentos de risco, mas igualmente por fatores ambientais, sendo hoje responsável por 73% das mortes causadas por todos os tipo de cancro da pele.
E se não é verdade que em Portugal os números sejam os mais elevados da Europa, já é verdade que eles andam a par com os de quase todos os países do Sul da Europa, nomeadamente a Espanha e a Itália, cifrando-se em cerca de 8/100.000 habitantes, sendo que todos os anos são diagnosticados cerca de 800 novos casos e são registadas cerca de 220 vítimas mortais. E tal como nesses países, em termos ocupacionais ocorre essencialmente (mas não exclusivamente) entre trabalhadores cuja atividade se desenrola ao ar livre, particularmente no setor das pescas (onde a associação à exposição constante à água salgada agrava ainda mais os problemas), da agricultura e da construção civil.
A sua deteção precoce é fundamental, já que, quanto mais cedo o melanoma for detetado maiores são as hipóteses de cura. Gostaria de relembrar que, para essa deteção costuma aplicar-se o sistema “ABCDE”, em que A significa a Assimetria do sinal ou lesão, B significa que apresenta Bordo irregular, C significa que possui uma Cor heterogénea (em regra várias tonalidades de castanho), D que tem um Diâmetro superior a 5mm, e E que sofreu uma Evolução brusca.
Perante estes sinais há que visitar imediatamente o médico.
Mas o ideal mesmo, nesta como em todas as situações, é Prevenir, ou seja, atuar antes que aconteça.
E isso é possível se todos se empenharem nessa prevenção.