Nos últimos trinta anos, o mundo do trabalho tem sofrido grandes transformações económicas e tecnológicas. Em toda a Europa, investigadores, entidades governamentais e organizações tornaram-se cientes de novos desafios no trabalho e da necessidade de satisfazer as exigências do mercado, ao mesmo tempo que garantem a rentabilidade dos seus negócios. Assim, adotaram novos métodos de organização que lhes permitem ser mais flexíveis e reativos. No entanto, essas mudanças provocaram alterações profundas na produtividade e na forma de trabalhar dos seus colaboradores, criando tensão no local do trabalho e abrindo caminho para o surgimento de riscos psicossociais (Hassard & Guyot, 2015; Leka, Cox, & Zwetsloot, 2008).
Os riscos psicossociais referem-se a todos os envolventes psicológicos, físicos e sociais que impactam negativamente na vida de uma pessoa, bem como na eficácia de uma organização (European Agency for Safety and Health at Work, 2007; World Health Organization, 2017). Na Europa, cerca de 25% dos trabalhadores referem sofrer de stresse relacionado com o trabalho, e uma percentagem igual associa o trabalho como tendo um efeito negativo na sua saúde (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho [AESST], 2014).
Neste âmbito importa referir alguns contextos teóricos, mas que geram diretivas para a praxis, insertos na AESST (2013) que refere que em todos os locais de trabalho existem riscos psicossociais e que o stresse relacionado com o trabalho é uma questão organizacional e não uma falha individual. Estes pressupostos colocam diretamente na “mesa” da decisão os empregadores e todos os que de alguma forma têm poder de assumir, dado o seu estatuto, o destino de quem trabalha.
Para além dos determinantes que podem e devem reorientar as estratégias de recursos humanos em prol da saúde mental, é pertinente salientar os números que implicam uma reflexão tendente a dar uma nova ótica à envolvente organizacional na componente stresse e riscos psicossociais, como sejam, 72% dos trabalhadores consideram que estes se devem à reorganização do trabalho ou à insegurança em termos de emprego, 66% referem que trabalham demasiadas horas que têm um excesso de carga do trabalho, 59% atribuem a sujeição a comportamentos inadmissíveis como o bullying ou assédio, e 51% consideram o stresse comum e com uma gestão inadequada (AESST, 2013).