Introdução
A realização de uma Avaliação de Riscos é um procedimento fundamental para uma melhoria contínua dos padrões de qualidade e segurança de qualquer organização. É necessário definir as tarefas, identificar os perigos (característica intrínseca das instalações, dos materiais, dos processos, das situações, das pessoas, que poderá ocasionar danos) e avaliar riscos (probabilidade de ocorrência de uma situação passível de provocar um dano e respectivas consequências) associados às mesmas e às quais os trabalhadores estão expostos. Uma avaliação de riscos permite um diagnóstico da condição laboral, a identificação e/ou quantificação do risco associado e a determinação das correcções a efectuar, assim como as medidas de prevenção e protecção mais adequadas.
Num serviço de Medicina Nuclear, apesar do elevado grau de especificidade, por se tratar de uma área onde as radiações ionizantes (que possuem energia suficiente para transformar átomos e moléculas em partículas com carga) assumem protagonismo, assim como o papel do físico responsável pelo Serviço, é necessária e possível a realização de uma Avaliação de Riscos com a periodicidade adequada por um Técnico Superior ou Técnico de Segurança no Trabalho (TSST ou TST), para que sejam verificadas as condições de segurança presentes no local e as melhorias a efectuar, no sentido de minimizar não só os efeitos nocivos das radiações no organismo, como também todos os outros riscos físicos, químicos, biológicos e ergonómicos existentes em qualquer serviço de saúde.
A Medicina Nuclear define-se, de forma muito simples e sintética, como uma técnica de diagnóstico e terapêutica que faz uso de tecnologias extremamente avançadas, seguras e indolores, para produzir imagens de órgãos do corpo humano, permitindo a sua visualização. Tem como princípios básicos a obtenção de imagens cintigráficas que se baseiam na capacidade de detectar radiação gama emitida por material radioactivo. Esta é uma área laboral onde as radiações ionizantes estão permanentemente presentes, sendo, portanto, fundamental um profundo conhecimento não só das suas consequências, como também das medidas de prevenção e protecção a adoptar (Pisco & Sousa, 1998). A existência de um Físico é obrigatória e determinante, não apenas para estabelecer os critérios para uma correcta utilização dos agentes radioactivos utilizados, como também na protecção do paciente e dos profissionais quanto à aplicação e uso das radiações ionizantes com segurança, entre outros.
Especificidades de um serviço de medicina nuclear
Os principais riscos existentes num Serviço desta natureza estão associados à presença constante de radiações ionizantes e consequente exposição. A exposição está associada ao acto ou condição de sujeição a irradiação por fontes radioactivas ou equipamentos emissores de radiação, que pode ser externa (irradiação por fontes exteriores ao corpo) ou interna (irradiação por fontes interiores ao corpo). De acordo com Avelar (s/d), Risco Radiológico é uma grandeza que exprime o perigo ou a probabilidade de efeitos nefastos associados a uma exposição potencial ou real a radiações. Relaciona grandezas como a probabilidade de ocorrência de um efeito nefasto específico, a sua intensidade e as suas características. Este risco poderá ficar a dever-se, essencialmente, à sobre-exposição radioactiva, assim como ao risco de contaminação. A Contaminação Radioactiva é entendida como sendo a presença de substâncias radioactivas num meio ou superfície material. No caso de contaminação do corpo humano, esta pode ser externa, quando se verifica deposição dos radionuclidos na superfície exterior do corpo, ou interna, quando os radionuclidos penetram no organismo por qualquer via (inalação, ingestão, feridas, etc.) (Avelar, s/d).
A radiação pode provocar, directa ou indirectamente, a ionização e excitação dos átomos do meio que atravessa. Obtêm-se, assim, iões e radicais livres que podem iniciar uma sequência de reacções químicas, as quais, no caso dos seres vivos, têm implicações no desenvolvimento, reprodução e vida das células. Os efeitos biológicos dependem da natureza e intensidade da radiação e do órgão ou tecidos afectados. É importante realçar-se que a radiação natural é a principal fonte de radiações a que a população está sujeita e que não é possível distinguir os efeitos devido à radiação natural daqueles que são originados pelas radiações que o homem produz (Martinho & Salgado, 1996).
As normas básicas de Radioprotecção assentam em três princípios gerais: Justificação da exposição; Optimização da mesma, devendo a exposição ser mantida tão baixa quanto razoavelmente possível; e Limite de Dose Individual, a qual não deve exceder os limites recomendados. Os três Princípios Fundamentais de Protecção e Segurança Radiológica devem ser permanentemente tidos em conta: o Tempo (os efeitos directamente proporcionais ao tempo de exposição), a Distância (a exposição num dado varia na razão inversa do quadrado da distância à fonte emissora) e o uso de Barreiras de material apropriado (por exemplo, o chumbo ou o tungsténio para reduzir a exposição para níveis aceitáveis) (Martinho & Salgado, 1996).
As Normas Básicas de Segurança para a Protecção contra Radiações Ionizantes e Segurança de Fontes Radioactivas foram revistas em 1994 e aprovadas pelos principais Organismos internacionais (OMS, OIT, entre outros). A Directiva 96/29/EURATOM do Conselho da Europa de 13 de Maio fixa as normas de segurança de base relativas à protecção sanitária de população e dos trabalhadores contra os perigos resultantes das radiações ionizantes. Um dos aspectos mais relevantes destas normas e Directiva é a ênfase na recomendação de “manter a exposição à radiação ionizante tão baixa quanto razoavelmente possível, tendo em conta factores sociais e económicos”.
O Serviço em estudo é formado por um conjunto de instalações devidamente preparadas para o efeito. Estas instalações situam-se ao nível de solo, cumprindo com o artº 48º do DL 180/2002. A sua localização encontra-se condicionada pelo tipo de risco 2, segundo a tabela VI do artº 83º do Anexo VI do mesmo DL. A instalação dispõe de duas zonas distintas: zona activa e a zona não activa. De acordo com o artº 61 do DL 180/2002, a zona activa compreende as seguintes dependências: radiofarmácia; área de transição; sala de administração de radiofármacos; sala de espera para doentes a quem foram administrados radiofármacos e respectivas instalações sanitárias; área de Imagiologia; zona de recepção, abertura e armazenamento de produtos radioactivos; área de resíduos; área de lavagem. As zonas das instalações que não se consideram como zona activa constituem a zona não activa. A equipa de trabalho é constituída por dois Técnicos de Medicina Nuclear, dois Enfermeiros, dois Médicos, um Físico e duas Técnicas Administrativas.
Método
Com este estudo, pretendeu-se, essencialmente, identificar, estimar e valorar os riscos para a segurança e saúde das pessoas face à sua gravidade e probabilidade, visando obter a informação necessária à tomada de decisão relativa às acções preventivas a adoptar. Para isso, foi necessária a aplicação de um método de avaliação de riscos profissionais de modo a conceber as medidas de prevenção e protecção necessárias. Pretendeu-se, também, delimitar a fronteira de actuação do Físico e a do TSST ou TST, cujas funções são perfeitamente diferenciáveis e igualmente necessárias. O método de Avaliação de Riscos escolhido foi o MARAT (Método de Avaliação de Riscos de Acidentes de Trabalho), por ser generalista, relativamente completo, intuitivo e de fácil aplicação. Neste método, determinou-se o Nível de Deficiência, através de Listas de Verificação (exemplificadas na tabela seguinte) , o que, em conjunto com o Nível de Exposição, permitiu determinar o Nível de Probabilidade, que, por sua vez, conjugado com o Nível de Severidade, possibilitou a determinação do Nível de Risco e, consequentemente, o Nível de Controlo.
Boa tarde!
Em busca de respostas ao risco para o profissional na área da medicina nuclear, encontrei este site no qual me ajudou muito. Venho a escrever estas linhas para mais informações e esclarecimentos…
Qual o grau de risco para um técnico que trabalha com a cintilografia na medicina nuclear, o qual já teve o câncer em específico de útero recentemente, (2 anos), existe uma contra indicação?
Agradeço pelas respostas .
Grata! Neire Siqueira
Bom dia Neire Maria
Obrigado pela sua questão e pertinência deste assunto.
Tal como informei uma outra sua colega e leitora do nosso site da revista “segurança” de Portugal, um dos grandes especialistas desta matéria vai estar entre os dias 5 a 8 de julho no II Congresso Luso-Brasileiro de Segurança e Saúde Ocupacional e Ambiental no Clube de Engenharia do Brasil e aí poderá colocar todas as questões que pretender.
No entanto vou passar esta questão para ele para lhe poder responder e a si e a todos quantos leem e assinam a revista “segurança” de Portugal. A assinatura desta revista técnico científica é de 82 reais/ano (14 reais por revista técnica científica) ou sejam 22 euros 6 números e ainda mais pode escrever para ela com artigos técnicos.
Mais algumas informações pode enviar para assinaturas@revistaseguranca.com ou geral@revistaseguranca.com
Aguardo as suas notícias
Isabel Santos