Na The Atlantic de 13 de Janeiro de 2017, Kathy Gilsinan conversa com Dennis Blair, director da inteligência nacional Norte-Americana entre 2010 e 2011, sobre 2 documentos sensíveis que circularam em Washington DC durante o início do mês de Janeiro.
Um dos documentos, da comunidade de inteligência Norte-Americana, continha evidências da interferência Russa nas eleições de 2016 com vista – segundo conclusão publicada – a ajudar Donald Trump a ganhar a eleição; o segundo documento, proveniente da Orbis Intelligence Ltd. uma empresa privada de inteligência, referia a existência de alegações pessoais e financeiras sobre o presidente eleito, em alguns casos alegadamente recolhidas pela/ou na posse da inteligência Russa.
O artigo merece uma leitura não tanto pelo contexto que lhe deu origem mas, em nossa opinião, pelo que Dennis Blair ainda sente necessidade de reforçar sobre o que é e para que serve a inteligência.
Logo na primeira questão, em que Kathy Gilsinan lhe pede para diferenciar o relatório da empresa privada de um produto de inteligência, a resposta não poderia ser mais esclarecedora ainda que tão básica de tão fundamental que é.
Responde Dennis Blair, “um produto de inteligência é escrito para responder a uma questão específica de interesse para os decisores políticos ou para os líderes operacionais no terreno e geralmente começa com um requisito de inteligência particular: “O que é que o ISIS fará a seguir?” como questão mais lata, até “Onde estão os IED em Aleppo?” como questão mais final. Portanto a comunidade de inteligência não anda sem sentido e escreve sobre o que mais lhe agrada. Tenta providenciar informação para ajudar a melhores decisões.”
Em nossa opinião, a resposta de Blair é clara, precisa e concisa reduzindo a função da inteligência ao que ela deve ser: procurar responder a questões específicas que visem capacitar os decisores políticos a poderem tomar melhores decisões.
Aproveitamos aquele artigo para nos questionarmos sobre a situação dos serviços de inteligência Portugueses.
Desde logo, sobre a existência, ou não, de questões levantadas pelos decisores políticos com vista a obterem informação adicional que os capacitem a tomar melhores decisões. Seria engraçado perceber se estes as fazem porque, daqui, decorre o interesse ou desinteresse que o poder político pode atribuir aos Serviços. Estamos convencidos de que o não fazem e, consequentemente, o desinteresse manifesto a que votaram os Serviços nos últimos anos.