O radão é um gás radioactivo, de origem natural. O radão inalado é a fonte principal da exposição a radiações ionizantes, contribuindo em média para cerca de 50% da dose de radiação que recebemos. A exposição prolongada a concentrações elevadas de radão, nos locais de trabalho e nas habitações, tem um efeito prejudicial à saúde, sendo o radão hoje considerado como a segunda causa do cancro de pulmão. Para reduzir a taxa de incidência do cancro de pulmão. Para reduzir a taxa de incidência do cancro de pulmão na população portuguesa, o radão é incontornável: há que reduzir a exposição a este gás.
1. Radão: um gás radioactivo
O radão é um elemento radioactivo, quimicamente estável e que nas condições ambientais correntes se apresenta no estado gasoso. Está bem estabelecido que o radão no ar interior dos edifícios é proveniente sobretudo do subsolo sob as construções, infiltrando-se e acumulando-se nos pisos inferiores.
A acumulação de radão na atmosfera de interiores pode atingir valores elevados e a sua inalação por períodos prolongados foi relacionada com o cancro do pulmão (WHO, 2009). A Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro considera o radão um agente cancerígeno confirmado (IARC, 1988). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a redução do radão no ar interior a valores abaixo de 100 Bq/m3 (média anual) ou, se tal não for possível, propõs que numa primeira etapa se adopte o limite de 300 Bq/m3 e se actue no sentido de progressivamente reduzir esta exposição (WHO, 2009).
A União Europeia (EU) recentemente aprovou como concentração de referência para limitar a exposição ao radão o valor de 300 Bq/m3 (média anual) no ar interior das construções, incluindo habitações e locais de trabalho. Este valor de referência altera as recomendações anteriores (de 400 e 200 Bq/m3 para edifícios existentes e novas construções, respectivamente) e deverá ser agora aplicado nos Estados Membros (Directiva 2013/59/EURATOM).
2. Situação do radão em Portugal
Portugal tem formações geológicas de granitos, xistos, calcários, basaltos e depósitos sedimentares. Estas diferentes litologias apresentam distintas concentrações do uranio e dos radionuclidos seus descendentes, incluindo o radão, sendo de esperar que a concentração de radão acumulado na atmosfera interior dos edifícios seja diferente conforme a geologia da região (Carvalho & Reis 2006; Carvalho & Oliveira 2007).
A título ilustrativo a Tabela 1 apresenta resultados de medições de radão efectuadas no interior de edifícios (rés-do-chão) em vários locais do país.
Estes resultados permitem várias observações. A primeira observação é sobre a existência de concentrações médias de radão muito mais elevadas no interior das construções na região Centro-Norte, no maciço granítico. Concentrações médias de radão mais baixas foram medidas na região da Grande Lisboa, onde os solos de origem sedimentar têm concentrações de uranio e rádio significativamente mais baixas que os solos e rochas das Beiras. Concentrações de radão baixas ou intermédias foram também medidas no interior de construções no Alentejo (Carvalho et al, 2015). Constata-se que os valores médios de radão determinados nalgumas destas regiões excedem o limite agora aprovado para a concentração média de radão no ar interior, 300 Bq/m3 (Directiva 2013/59/EURATOM).
A Figura 1 apresenta a flutuação das concentrações de radão no ar no interior de uma pequena oficina ao longo de vários dias. Note-se que a variação diária do radão apresentou concentrações mínimas cerca das 19 horas e as concentrações máximas cerca das 07-10 horas, isto é, ao final da tarde e durante a manhã, respectivamente. A variação cíclica diária do radão no ar de superfície resultou sobretudo da flutuação da taxa de exalação de radão do solo que, num período sem chuva e relativamente seco, foi controlada pela temperatura e humidade do ar de superfície.