ANTÓNIO SOUSA-UVA (Médico e Professor)
(continuação do número anterior)
Quer os acidentes de trabalho, quer as doenças “ligadas” ao trabalho continuam, apesar de tudo, a constituir uma importante fonte de sofrimento humano, obrigando anualmente, na União Europeia, cerca de 350.000 trabalhadores a mudar de emprego ou de local de trabalho ou a reduzir o tempo de trabalho e quase outros 300.000 a apresentar diferentes graus de incapacidade permanente, sendo mesmo 15.000 excluídos do trabalho para o resto das suas vidas.
O conceito de doença “ligada” ao trabalho é mais abrangente que o conceito de doença profissional, incluindo outras situações de doença em que o trabalho, de alguma forma, contribui para a etiologia ou o agravamento dessa doença.
Note-se adicionalmente que a Organização Mundial de Saúde e a Organização Internacional do Trabalho estimam que morram em cada ano, no mundo, 1.9 milhões de trabalhadores em resultado da exposição a factores de risco de natureza profissional. E é cada vez mais importante alertar que, de há muito, cerca de quatro em cada cinco dessas mortes ocorrem em consequência de doenças e “apenas” o quinto restante se relaciona com os acidentes de trabalho.
Tal representa, grosseiramente, o inverso da “imagem” que nos é oferecida maioritariamente, fundeada na maior facilidade de identificação e no “dramatismo” que sempre se relaciona, por exemplo, com os acidentes de trabalho mortais que despertam, por isso, uma maior (e mais imediata) atenção mediática.
Claro que a atenção prestada à prevenção dos acidentes de trabalho, e por maioria de razão aos que têm desfecho fatal não é, por certo, superior à desmesurada importância desses acontecimentos, mas a ínfima atenção prestada à prevenção das “doenças ligadas ao trabalho” é, pungentemente, reveladora da visão “míope” das consequências nefastas dos factores de risco profissionais na saúde de quem trabalha. Tal também reforça a perspectiva de não ser suficiente ter locais de trabalho saudáveis e seguros mas, acima de tudo, objectivar, isso sim, trabalhadores saudáveis e seguros para o que, por certo, contribuem esses locais de trabalho saudáveis e seguros.
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