PAULO MACEDO (Professor Universitário Lusófona)
A nossa convicção é a de que sempre vivemos num mundo incerto, talvez menos conscientes ao longo dos tempos dada a dificuldade de comunicações quando comparado com a instantaneidade comunicacional actual; mas a incerteza sempre nos acompanhou. Dito isto, também é nossa convicção de que actualmente vivemos num mundo mais perigoso ou pelo menos com potenciais consequências negativas mais devastadoras.
1. A segurança, em sentido lato, ao contrário do que alguns propagam –pelo menos no discurso –, nunca está garantida: não existe segurança absoluta, não existe risco zero. Diríamos mesmo que quando alguém afirma que “a segurança de x ou y está garantida” está a ter um discurso deceptivo; outra coisa seria dizer que se fez tudo quanto era aceitável, adequado e exequível para evitar que um dado evento possa ocorrer. As palavras importam sob pena de, em caso contrário, se perder a credibilidade e potencialmente aumentar a percepção de insegurança perante a realidade. Por mais improvável que seja a ocorrência de um determinado evento com potenciais consequências negativas, ele não é impossível de ocorrer. Aliás, é exactamente por esta razão que realizamos gestão e aná- lise de riscos; resta-nos, portanto, fazer todos os possíveis para evitar que um incidente possa ocorrer.
Ciclicamente a percepção de insegurança reaparece nas primeiras páginas dos jornais, muitas vezes em função de um caso mais chocante, de um conjunto de situações que, embora possam não ser chocantes, polarizam a atenção ou, ainda, em função de outras razões mais ou menos pensadas para se atingirem objectivos de outra natureza que não a segurança pública. De qualquer forma, e tomando como referência o Relatório da Anual de Segurança Interna de 2023, é indubitável que há ligeiros crescimentos em várias das actividades criminosas, em particular em algumas que potenciam um sentimento de insegurança até pela proximidade com as vítimas, como seja o roubo na via pública ou mesmo a extorsão.
Provavelmente será uma boa oportunidade para correlacionar, onde possível, a geolocalização de tais incidentes com a geolocalização das câmaras de CCTV existentes e perceber-se a rentabilidade (ou não) de tais investimentos. É que, ao contrário do que alguém alegadamente afirmou, uma câmara de CCTV não substitui um agente de polícia e parece fácil perceber, na ocorrência de um roubo dentro do alcance de uma câmara ou a mesma situação ao alcance de um grito de alarme para um agente de polícia próximo, qual das duas seria mais eficaz em termos da percep- ção de segurança do cidadão. Não é retórica, mas a prevenção é mais eficaz do que a perseguição.
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