LUÍS DO NASCIMENTO LOPES (Vice-Presidente da FENEI/SINDEP)
Confesso que sou um leitor assíduo de obras da vulgarmente designada “ficção científica”. E exactamente por ser leitor frequente, tenho para mim que a designação correcta para muitas dessas obras deveria ser “antecipação científica”, tal o número delas que, quando foram escritas eram de facto sobre temas de ficção, mas que, revelando uma enorme antecipação, vieram a retratar temas do quotidiano de um futuro que nem tardou muito. E para provar esta afirmação basta citar autores como Júlio Verne, Carl Sagan, Isaac Asimov, entre outros.
Esta simples constatação deveria servir para nos relembrar que o futuro de anteontem é já o passado de ontem e encorajar-nos à leitura mais atenta desse género literário. Não o fizemos e talvez devêssemos arrepender-nos e mudar a nossa atitude.
Aqui há uns anos li, numa daquelas revistas fora de data que abundam nos consultórios de dentistas, entre outros, uma notícia com uma estatística sobre os temas mais glosados nas obras da chamada ficção científica. Curiosamente, o tema mais “retratado” (e a uma distância significativa do segundo) era o de uma epidemia global provocada por um vírus de origem incerta que punha em risco a sobrevivência da espécie humana no nosso planeta. Ou seja, antes de 2019, milhares de livros alertavam para o risco e alguns deles por certo apontariam soluções, ou pelo menos dariam pistas sobre os planos de contingência que deveríamos ter preparados e que se verificou não existirem, o que atrasou em muito a resposta à crise. E sobre isto o meu medo é que, debelada oficialmente a pandemia, já estejamos a esquecer a importância desses mesmos planos.
Curiosamente o segundo tema mais referido era o do conflito entre homem e máquina ou, como eu às vezes gosto de ironizar “o conflito entre Inteligência Artificial e Estupidez Natural”. E também neste tema parece estarmos apenas maravilhados (alguns diriam pacoviamente siderados) pelo maravilhoso mundo novo das máquinas e da sua crescente invasão de um espaço até aqui reservado aos humanos. Que fique claro que não tenho qualquer dúvida de que a máquina pode e deve substituir o homem sobretudo nas operações mais perigosas e que maiores riscos apresentem para a Segurança e Saúde no Trabalho. Nesses casos a introdução de máquinas e robots pode diminuir a sinistralidade laboral e contribuir muito positivamente para a qualidade das condições de trabalho. O problema é que não é só aí que a máquina está a substituir o homem. E nem sempre com vantagens claras para o homem. Os mais velhos ainda se lembram de quando o reabastecimento de combustível nas nossas viaturas era feito por um gasolineiro. Hoje, praticamente em todo o lado somos nós próprios que o fazemos, como se fossemos funcionários da gasolineira. Quem lucrou com isso? Os funcionários da gasolineira? Não, esses foram despedidos. Nós, os consumidores? Não. O combustível não baixou de preço. A sociedade em geral? Não, os subsídios de desemprego dos gasolineiros foram pagos com os impostos de todos nós. Em resumo, só lucraram as grandes petrolíferas. Nas grandes superfícies comerciais os operadores humanos das caixas estão a ser paulatinamente substituídos por máquinas. Alguns dirão que isso é bom para a saúde dos trabalhadores pois passará a haver menos lesões músculo-esqueléticas. A isso eu contraponho que isso se deve não à melhoria
das condições de trabalho, mas sim à passagem para o desemprego de muitos trabalhadores. E aqui chegado tenho de relembrar que a definição de saúde da OMS, estipula que não é apenas a existência visível de doença, mas sim um estado de completo bem-estar físico, mental e social. E não me parece que a situação de desemprego proporcione bem-estar físico, mental e social a quem quer que seja.
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