1. Introdução
A probabilidade de ocorrência de acidentes de trabalho, de doenças profissionais e de doenças relacionadas e/ou agravadas pelo trabalho está sempre associada às (i) condições de produção (ex.: espaços de trabalho, meios técnicos e ambiente), aos (ii) componentes organizacionais do trabalho (ex.: horários, recursos humanos, hierarquias), às (iii) características dos trabalhadores (ex.: sexo, idade, estado de saúde) e (iv) à forma como o trabalho é realizado (atividade de trabalho).
Nesse contexto e na perspetiva da Saúde Ocupacional (SO) ou da Saúde e Segurança do Trabalho (SST) é indispensável a valorização da interação entre as pessoas (trabalhadores) e o processo produtivo. Os trabalhadores, independentemente do setor de produção em que desempenham as suas funções, têm de responder às exigências dos mais recentes meios tecnológicos que lhe são fornecidos e às crescentes pressões organizacionais e sociais. Tal determina que trabalhem em condições nem sempre adequadas às suas características, capacidades e limitações o que pode condicionar a sua saúde e bem-estar. Por outras palavras, a adequação do envolvimento (profissional) ao homem, com o objetivo de prevenir o acidente e a doença, tem sido frequentemente desvalorizada.
O processo de adequação entre o envolvimento e o trabalhador tem sido (erradamente) orientado de forma a selecionar/adaptar o homem ao trabalho. Assim, face às solicitações externas do mercado, independentemente do setor de atividade económica, as exigências produtivas têm aumentado substantivamente, o que implica sempre a necessidade de adaptações físicas, mentais e sociais dos trabalhadores ao trabalho. Essas adaptações são determinadas em função de um complexo e difícil processo de regulação individual que em parte se traduz em respostas observáveis como por exemplo os comportamentos, os gestos e as ações, frequentemente repetitivos, sob elevados ritmos de trabalho, com utilização de força e muitas vezes em posições desconfortáveis.
É desse modo reconhecido que o ambiente profissional, incluindo a organização do trabalho, condiciona frequentemente, ou determina mesmo, situações de risco de acidentes e doenças profissionais. É mesmo possível afirmar que, apesar de aparentemente irracional, a sociedade, numa relação desequilibrada entre empregadores e empregados, tem muitas vezes orientado o mundo do trabalho na perspetiva da desvalorização da saúde e segurança dos trabalhadores nos locais de trabalho. Por certo trabalhadores saudáveis e seguros em locais de trabalho também saudáveis e seguros (1) teriam menores custos individuais e sociais com a saúde e seriam, simultaneamente, mais produtivos e, consequentemente criariam maior riqueza.