Ao iniciar esta série de artigos, gostaríamos de agradecer à Diretora da revista “segurança”, Dra. Isabel Santos, o seu empenho e sensibilidade para as questões inerentes à segurança. De outra forma, não seria possível emitir opiniões e transmitir informações sobre um conteúdo que é desconhecido à maioria dos portugueses.
Sendo este o primeiro, de um grupo de seis artigos, iremos apresentar uma introdução baseada na influência que os transportes rodoviários têm na sociedade portuguesa. Iniciaremos com um perfil histórico e geográfico, fazendo referência à evolução da indústria petrolífera, ao desenvolvimento dos veículos automóveis e das vias de comunicação em Portugal.
A nível europeu, o transporte de mercadorias, tem sido baseado num modelo unimodal, destacando-se a utilização excessiva do transporte rodoviário, do qual Portugal será um dos países da UE mais dependentes.
Analisando pormenorizadamente este facto, verificamos que o modo de transporte rodoviário “é aquele que maior impacto assume ao nível das externalidades negativas”.
Ao nível comunitário, alguns especialistas destas matérias, defendem a ideia de alterar a política e a forma de transporte de mercadorias no espaço europeu, apoiando algumas penalizações para desincentivar o transporte rodoviário e promover a intermodalidade.
Como se pode verificar no gráfico, a intermodalidade no transporte de mercadorias, depende das distâncias do transporte, do valor da mercadoria e do seu grau de perecibilidade. Há que ter sempre em consideração os encargos operacionais, como por exemplo o custo do trabalho, dos combustíveis e da manutenção.
Segundo Alban D’Entremont do Departamento de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Navarra, o transporte intermodal, poderá ser uma alternativa mais eficiente ao transporte exclusivamente rodoviário. No entanto, não nos poderemos esquecer da capacidade de resposta das infraestruturas de transporte para que se alcance uma concreta eficiência em termos de custos e de tempo.
Quando nos detemos na realidade portuguesa e, em particular na atividade dos Transportes Rodoviários de Mercadorias Perigosas (TRMP) concluímos que esta é composta por um conjunto revelador de dificuldades. Os trabalhos científicos existentes sobre esta matéria são poucos. O progresso e melhoria das condições de segurança operacionais, assim como a defesa da promoção da saúde dos trabalhadores, não têm acompanhado as necessidades, apresentando inúmeras discrepâncias.
Quando nos propomos a analisar o país real, verificam-se factos muito diferentes. Assistimos a um pequeno universo de empresas que desenvolvem padrões caraterizados pela qualidade e exigência, às quais não são estranhos os cuidados e o bom nível técnico das decisões tomadas pelos especialistas que constituem o grupo de trabalho GT8 da APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas).
No entanto, esse facto dilui-se no restante cosmos empresarial ligado ao manuseamento, armazenagem e transporte de mercadorias perigosas em geral.
As dificuldades existentes são diversas. Vão desde a insensibilidade de gestores e decisores, à incapacidade económica que as empresas enfrentam e as impedem de suportar as responsabilidades de uma prestação de serviços, constituída pelos diferenciadores e necessários elementos ligados ao Ambiente, Qualidade e Segurança (AQS).
O Transporte Rodoviário de Mercadorias Perigosas é um caso particular no transporte de produtos que faz parte da cadeia de fornecimento dos países. “Durante essa atividade, vários fatores passam a ser críticos e a imprudência pode significar não só a perda de mercadoria como um elevado risco para as pessoas envolvidas no transporte e para o meio ambiente envolvente” (Paiva, 2008).