António de Sousa Uva, Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional
A mortalidade por doenças profissionais (e outras doenças “ligadas” ao trabalho) é muito superior à mortalidade por acidentes de trabalho, apesar de ser frequente a referência quase que apenas ao dramatismo das consequências, igualmente pungentes, de alguns destes últimos acontecimentos. A mortalidade por “doenças ligadas ao trabalho”, sem essas características, fica, quase sempre, oculta e para o ilustrar bastaria referir que a mortalidade por cancro profissional, ou por outros cancros “ligados” ao trabalho, supera largamente a dos acidentes de trabalho com desfecho mortal e raramente ou quase nunca é referida. Isto para não falar de outras causas, cada vez mais generalizadas, como é o exemplo do trabalho por tempos muito prolongados e, designadamente, o trabalho de muitas horas semanais (55 ou mais horas).
O aumento do horário semanal de trabalho é mesmo considerado por muitos sectores como uma característica de dedicação a uma actividade que a sociedade apenas critica a indisponibilidade de alguns para essa, digamos, “obrigação”.
Qual(ais) poderá(ão) ser então a(s) razão(ões) para tão acentuado “apagão”?
Que razão(ões) estará(ão) na pouca valorização que se dá às “doenças ligadas ao trabalho”?
Será que que quem tem a responsabilidade das políticas públicas da área da Saúde Ocupacional (ou da Saúde e Segurança do Trabalho – SST, se se preferir) está convencido que a tradução de textos europeus e a sua publicação ou a sua evocação em planos e programas é sinónimo de prevenção de doenças profissionais?
O que será necessário para dar às doenças profissionais, no mínimo e para não falar das outras “doenças ligadas ao trabalho”, a mesma importância que se dá aos acidentes de trabalho?
Claro que as relações trabalho/lesão (que ocorrem num acidente de trabalho) são mais fáceis de compreender relativamente a relações trabalho/doença, de maior complexidade, que se expressam, muitas vezes, alguns (às vezes muitos) anos após a exposição e, pior ainda, que se confundem com as doenças naturais. Por vezes até a sua manifestação pode só ocorrer após a cessação da actividade profissional que esteve na sua origem.
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