Leonor Carmo, Coordenadora do Centro Qualifica do Algueirão
Aposto que se este artigo fosse maioritariamente lido por estranhos a estas coisas da segurança, o pensamento unanime iria para a falta de condições de e no trabalho, que põem a vida dos trabalhadores em risco. Ouvimos muitas vezes o comentário:” isto é como trabalhar sem rede, um destes dias ainda há chatice da grossa…”. E claro, surgem-nos imagens assustadoras de graves atropelos ao bom senso, já para não dizer de graves faltas de conhecimentos de regras, e porque não afirmá-lo sem medos, de muito pouca inteligência por parte dos patrões e (por vezes), por incúria de quem excuta as tarefas.
Mas nesse “tipo de redes” não me meto, não vá ser apanhada nalgum nó que não saiba desatar.
Escrevo sobre as outras redes. Aquelas que não se veem, não se sentem, não se cheiram. Que são invisíveis e às vezes totalmente impercetíveis.
Não, também não é da internet ou da web que vou tentar refletir convosco, pelo menos para já. Essas redes são explosivas e parece impossível escapar aos bombardeios dos incontáveis www.coms, vistos constantemente na televisão, ouvidos na rádio e vistos em revistas. Como a Internet se tornou imprescindível para gerir uma grande parte das nossas vidas, é necessária uma abordagem exclusiva e que terá cabimento numa outra conversa.
E se já estão a pensar que vos trago algo fútil, na verdade, tentarei começar a refletir convosco sobre as teias sociais, as das pessoas, aquelas em que se tomba, se tropeça, ou onde se tecem as nossas interações pessoais, laborais e familiares.
Imaginemos um grande monte de brinquedos, todos desarrumados, espalhados pelo chão de uma sala imensa, bem decorada, mas pouco original, limpa, mas sem brilho. Pedimos a algumas crianças que entrem na sala e que escolham os seus brinquedos favoritos. Depois de alguma hesitação, dirigem-se ao monte e retiram o brinquedo que mais chamou a atenção de cada uma delas.
Eventualmente não estarão interessadas em olhar para o espaço. Não as cativou, não lhes despertou os sentidos. É obviamente um momento ficcional (estará
agora o leitor ou a leitora a pensar), qualquer criança perante tantos brinquedos, nunca escolheria só um, haveria confusão, risadas, zangas ou birrinhas de cobiça.
Sim, pode ser, mas também é verdade que perante um monte de brinquedos desalinhados, este grupo de crianças perderia o interesse e a vontade de brincar.
Ora, o nosso comportamento enquanto adultos trabalhadores, produtores e consumidores, não difere grandemente deste conjunto de pessoas mais novas, mas com capacidades e competências desenvolvidas e/ou adquiridas cada vez mais cedo, ao longo da sua vida ainda curta, e que se tornam adultos exigentes que não querem viver numa amalgama, confusa e distorcida de interações, que não foram imaginadas, planeadas, planificadas e criadas para cada um e para todos em geral. São agora os adultos que procuram espaço e qualidade, em contrapartida à anterior procura desenfreada de quantidade. E sim, para nós a “sala” tem de brilhar, tem de ser original, adaptada e tem de ter matéria prima alinhada com as nossas expectativas.
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