LUÍS DO NASCIMENTO LOPES (Vice-Presidente da FENEI/SINDEP)
O acompanhamento a um familiar faz com que ao longo deste ano tenha frequentado assiduamente o IPO em Lisboa. E gostaria de começar este meu artigo por expressar um profundo voto de louvor a todos quantos aí trabalham, médicos, enfermeiros, pessoal administrativo e auxiliar e o corpo de voluntários, por, sempre com o maior profissionalismo e correção técnica, nunca abdicarem da vertente humanista e por vezes mesmo carinhosa como cuidam de quem os procura, em situações de extrema fragilidade, ansiedade e quase desespero. As instalações já conheceram melhores dias, mas o atendimento, prestado com toda a ética e transparência, revela bem como o capital humano continua a ser o principal capital das instituições, sobretudo das públicas.
Mas um aspecto que muito me tem chocado prende-se com a realidade das faixas etárias que pude ver com os meus olhos que enchem as salas de espera, os gabinetes de consultas e as salas de tratamentos da instituição.
A imagem que eu tinha construído ao longo da minha vida, marcada pelos relatos que ia ouvindo, de o cancro ser uma dramática realidade que, quase inevitavelmente, a todos, potencialmente, iria atacar lá para os 60 e muitos, 70s anos, ruiu estrondosamente com o que vi no IPO, reduzida a um exemplo do “efeito Mandela”, mais uma falsa “memória colectiva”. Não tenho a mais pequena dú- vida de que, se não a maioria, pelo menos quase metade dos pacientes que ali encontrei eram jovens ou de meia-idade, sem dúvida pessoas em idade activa.
E esta realidade levantou-me, de imediato duas perguntas: Qual o real impacto económico do cancro na nossa sociedade, ou seja, que prejuízo traz às empresas e à sociedade a mão-de-obra que contrai cancro e as “baixas” daí resultantes? Mas esta primeira pergunta deve implicar necessariamente a segunda questão que é a de saber quantos desses cancros são de natureza ocupacional, ou seja, foram contraídos ou agravados em consequência do trabalho.
E a articulação entre estas duas perguntas vai levar-nos à conclusão de que, em muitos casos, o prejuízo económico é o que poderíamos designar por “a tempestade económica causada pelos ventos que as condições de trabalho semearam”. E o mais ingrato é que em boa verdade não temos no nosso país estudos profundos que respondam inequivocamente às duas questões.
Mas eu, sem deixar enquanto cidadão e contribuinte de querer ter uma resposta séria e sólida para a primeira pergunta, gostaria, pelo âmbito da nossa revista, de me focar sobretudo na segunda.
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