LUÍS DO NASCIMENTO LOPES (Vice-Presidente da FENEI/SINDEP)
Cada vez mais vamos assistindo à introdução no léxico profissional da SST a termos como “Trabalho digital”, “Nómadas digitais”, “Trabalho remoto”, etc.
É um sinal dos tempos, impossível de negar e de barrar, uma consequência inevitável da velocidade “furiosa” da evolução da ciência e da tecnologia a que hoje se assiste.
Mas há que estar atento e não permitir que esta nova terminologia seja uma mera operação de semântica. Não basta mudar ou inventar palavras. Há que perceber que elas correspondem e definem novas situações, novas formas e novas relações de trabalho, que exigem novas abordagens, novas ferramentas e até mesmo novos agentes e intervenientes.
E esse cuidado é tanto mais necessário quanto os últimos decénios nos têm revelado como é mais fácil mudar palavras que resolver problemas. Todos sabemos como uma palavra “fofinha” pode esvaziar o peso legal e simbólico de um conceito e engalanar de “calor e fraternidade” relações em que só a força do enquadramento legal evita que se tornem tóxicas. Atente-se na facilidade e rapidez com que o termo “colaborador” tem vindo a substituir o termo “trabalhador”, em simultâneo com a tentativa mais ou menos velada de substituir uma relação jurídica solidamente estabelecida, por um conceito que nos remete imediatamente para a esfera do voluntariado. Não se espantem se um dia virem nas montras o “Código do Trabalho” a ser substituído pelo “Código da Colaboração”.
Tal como todos sabemos como substituir uma palavra em português por um termo em estrangeiro dá logo um ar pseudo-modernista, cosmopolita e muito chique. Por exemplo, em vez de despedimento cada vez mais se fala em “turn-over”. Para os trabalhadores despedidos não há quaisquer benefícios desta terminologia. Despedidos ou turnoverizados, o resultado é o mesmo e por certo não vão gastar parte do seu subsídio de desemprego a comprar um dicionário de inglês-português para perceberem melhor o que lhes sucedeu. Mas o empregador, esse, fica com fama de poliglota e uma imagem corporativa de modernismo. E quem não prefere ser um “Chicago boy” a ser um “Rapaz da Arruda dos Vinhos”?
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