O assédio moral no local de trabalho é hoje um flagelo, sobretudo nos países mais desenvolvidos e em economias muito assentes no sector terciário.
Também neste campo Portugal não foge à regra. Não temos números fiáveis, até por se tratar de situações de coacção que ocorrem geralmente em ambientes “fechados” e onde não há testemunhas pois estas são geralmente cúmplices, por acção ou omissão, dos actos em si.
Mas todos sabemos os danos psicológicos que este tipo de violência provoca e todos estamos bem conscientes de que em muitos locais de trabalho o assédio moral, longe de ser combatido, antes foi “elevado” a ferramenta de gestão.
Como chegámos aqui, num país geralmente de “brandos costumes”, e onde o trabalho foi tradicionalmente quase ”sacralizado”?
Convém talvez começar por definir os conceitos do que estamos a falar. Afinal, o que é o Bullying?
Muitas definições poderiam ser dadas mas, pela sua simplicidade, deixo aqui uma, de uma médica do trabalho, Margarida Silveira Barreto: “A exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício das suas funções, sendo mais comum em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e a éticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego”.
Todos conhecemos situações que cabem por inteiro na definição anterior, apesar de depois demonstrarmos uma grande admiração perante a elevada taxa de consumo de antidepressivos no nosso país.
Mas se esta prática é responsável por elevadas taxas de absentismo, porque é que alguns “gestores” recorrem a ela? O que pretendem? Claramente criar um ambiente de tal forma hostil e agressivo para o trabalhador que o leve a despedir-se (ou no caso de alguns resistentes) a entrar numa situação de baixa prolongada que o afaste do trabalho.
E quem recomendou esta prática a estes “gestores”? Seguramente não nas universidades, esses centros de saber dedicados ao progresso.
Não mesmo?
Claro que em nenhuma cadeira de nenhum curso de gestão de empresas, esta prática é ensinada como recomendável.