VERA LÚCIA MARQUES MENDES (Primeiro Tenente Técnico Saúde – Enfermeira Adjunta do Chefe do Núcleo Saúde no Trabalho Gabinete de Segurança e Saúde no Trabalho)
O panorama laboral português tem sofrido uma transformação significativa nas últimas décadas. O que outrora era um cenário relativamente homogéneo tornou-se num mosaico vibrante de culturas, línguas e tradições. Esta mudança, impulsionada pela globalização e pelos fluxos migratórios, trouxe consigo não apenas uma riqueza de perspetivas e competências, mas também novos desafios na gestão da segurança e saúde no trabalho.
Em 2023 verificou-se um acréscimo da população estrangeira residente em Portugal, de 33,6% face a 2022, perfazendo um total de 1 044 606 cidadãos estrangeiros titulares de Autorização de Residência1. Esta diversidade reflete-se nos locais de trabalho, onde é cada vez mais comum encontrar equipas compostas por indivíduos de várias nacionalidades. Esta realidade multicultural, embora enriquecedora, apresenta desafios únicos no que diz respeito à segurança laboral.
As perceções de risco, os hábitos de trabalho e as atitudes face à segurança variam consideravelmente entre culturas. O que é considerado um comportamento seguro numa cultura pode ser visto como desnecessário ou até contraproducente noutra. Por exemplo, em algumas culturas, questionar as instru- ções de um superior hierárquico pode ser visto como um sinal de desrespeito, mesmo que seja para esclarecer uma dúvida sobre segurança. Noutras, o uso de equipamento de proteção individual pode ser percecionado como um sinal de fraqueza ou inexperiência.
As barreiras linguísticas representam outro obstáculo significativo. A compreensão clara das normas de segurança, dos procedimentos de emergência e dos riscos associados a cada tarefa é fundamental para um ambiente de trabalho seguro. Quando a comunicação é dificultada por diferenças linguísticas, o risco de acidentes aumenta consideravelmente.
Face a este cenário, as empresas portuguesas encontram-se perante um desafio complexo: como criar e manter uma cultura de segurança robusta que seja eficaz e inclusiva para todos os trabalhadores, independentemente da sua origem cultural? É aqui que entra o conceito de resiliência organizacional.
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